terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS NA LITERATURA PORTUGUESA


Por Elizeu Tomasi

           A Revolução dos Cravos (1974) representou para Portugal bem mais que a perda de poder sobre suas colônias, mas também provocou o “despertar literário” português. O povo que até então fora calado pela repressão fascista vivia agora a expectativa de ver uma Portugal que entrasse de fato para o contexto da modernidade europeia da época. E esse “despertar” com toda a certeza não aconteceria de maneira simples, ao acordar e se deparar com uma realidade totalmente diferente do colonialismo, Portugal entra em uma crise de identidade e cultural que o obrigava a refletir sobre “quem era na ordem do dia”.
            Neste contexto, como principal nome pós-moderno (re) surge o escritor português do Ribatejo José Saramago como um reformulador. Em sua metaficção historiográfica Saramago buscou na história a base para entender o então contexto social em que Portugal vivia, mostrando a história portuguesa, mas centrando na individualidade dos personagens como elemento modificador capaz de criar um novo passado para Portugal. Outro nome bastante importante deste período é, sem dúvida nenhuma, Antonio Lobo Antunes que traz para a literatura as experiências de guerra em uma tentativa de “maquiar” o fracasso português e amenizar os traumas – coletivos e individuais – vividos na Guerra de Independência Colonial Portuguesa.

            Ambos os escritores além de abordarem a criação de um novo imaginário português que fosse além das colônias, reformularam também aspectos formais da literatura. Saramago resgata a discussão linguagem/realidade mostrando que a linguagem tenta corresponder à ideia das coisas e jamais poderá fazer algo que não seja a sua essência. O escritor reconhece ainda a dialocidade da linguagem já que está existe com a intenção de comunicar. Saramago e Lobo lançam mão ainda de uma linguagem bastante distinta, fazendo uso de pontuação própria e de uma narrativa fragmentada e hibrida permitindo o diálogo entre gêneros diferentes e uma intertextualidade amplamente enriquecedora para o texto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário